Os últimos dias do ano servem para agradecer. Mas, com 2022 batendo à porta, é hora também de imaginar o que o novo ano nos reserva e prever tendências.
Assim, primeiramente, quero agradecer os inúmeros feedbacks que recebo. Meus textos são fruto de uma mente inquieta apaixonada por mídias, tecnologia, entretenimento, Internet e seus impactos na sociedade – como eu me descrevo no meu blog.
2021 fez história e conseguiu escapar de muitas previsões, mas, a escolha do NFT como palavra do ano, a diversificação do uso do big data, as discussões sobre IA e a necessária regulação das Big Techs se concretizaram.
No ano que se aproxima quero focar minhas reflexões em modelos descentralizados, leia-se: Web 3.0. O ano de 2022 oficialmente colocará na pauta pública, regulatória e política, o debate sobre o usuário e seus ativos digitais, incluindo a sua identidade.
Mas, afinal de contas, o que é a Web 3.0? Explicar as gerações anteriores pode ajudar a compreender melhor as evoluções na rede, ainda que, essas divisões não sejam tecnicamente, tampouco academicamente precisas. Há muita divergência no meio.
Alguns entendem que a medida em que o grau de interação evolui, mudamos de geração. Já para outros, a metrica são as aplicações disponíveis. No presente caso vou adotar uma visão mais simples e, de certa forma, pessoal.
A Web 1.0 é a fundação da World Wide Web. A conexão discada e a velocidade máxima de 56 kbps combinavam com a cor pálida dos PCs. Éramos usuários ativos, nos ligávamos e desligávamos de uma internet de muitos downloads e poucos uploads de informação por meio de uma ligação telefônica. #TBT Imagem da Mona Lisa surgindo lentamente, frame a frame, na tela do meu monitor no site do Museu de Louvre.
Com a chegada da banda larga de 1, 5 e 10MB/s em uma conexão permanente , a Web 2.0 nos permitiu o status online sem restrição de tempo e lugar.
A partir da banda larga móvel a internet passou a andar em nossos bolsos. A evolução foi impressionante! Surge a User Content Generation “proconsumidora” que passa a subir e a baixar informações. As mídias sociais organizam redes imensas formando comunidades em torno de interesses e pessoas, criando celebridades e oficializando a relevância dos influenciadores digitais. Mais voz, mais informação e muita desinformação.
As empresas de tecnologia ficam gigantes e diversificam seus negócios. Agora estão presentes também em serviços de e-mail, games e até viagens espaciais. A economia compartilhada se revela e o comércio eletrônico explode. A regulação da internet, antitruste e a proteção de dados pessoais em razão do Big Data ganham musculatura.
Então, em 2006, a Web 3.0 foi definida pelo colunista do New York Times, John Markoff, como a “web semântica”. Para ele, “seu objetivo é acrescentar uma camada de significado sobre a web existente que a tornaria menos um catálogo e mais um guia e até mesmo fornecer a base para sistemas que possam raciocinar de uma forma humana”.
Em outras palavras, a ideia é atribuir significado ao conteúdo na internet, não sendo mais necessário buscar por informações por palavras-chaves, por exemplo, mas sim de forma em que a web possa construir uma resposta mais elaborada a partir de várias análises e interpretações de dados.
Uma coisa é clara para mim: com o 5G – e em seguida o 6G, Wi-Fi 6, Internet das Coisas (IoT), Metaverso, Inteligência Artificial e modelos de negócios e organizações descentralizadas, somados aos criptoativos e modelos financeiros P2P (peer-to-peer), teremos uma Web que promete devolver aos usuários mais poder e governança dentro do ecossistema.
No meu exercício de futurologia, vejo que se a privacidade foi a tônica da Web2, a identidade será a evolução dos direitos de privacidade.
Na Web3, a identidade funciona muito diferente do que estamos acostumados. Teremos a “Identidade autossoberana”, isto é, será possível interagir e controlar nossa identidade com segurança no mundo digital sem a intervenção das autoridades.
Na prática, na maioria das vezes em aplicações Web3, as identidades estarão vinculadas à carteira do usuário que interage com a aplicação. Assim, se hoje os usuários entregam informações sensíveis e pessoais, na próxima geração da Web, os endereços de wallets são completamente anônimos. Ao usar a mesma carteira, através de múltiplas aplicações, sua identidade é transferível para outros aplicativos, o que lhe permite construir sua reputação digital com o tempo. Essa reputação será uma moeda na rede.
Não podemos confundir a Web3 com criptos, NFTs, De-Fi, DAO ou Metaverso. A Web 3.0 é uma série de protocolos e plataformas integradas que tornam possível as aplicações, os serviços e as moedas com foco em modelos descentralizados.
É a Web da economia tokenizada e essa será a minha obsessão para 22.
Pretendo mês a mês escrever não apenas sobre as tecnologias em si, mas suas implicações jurídicas, sociais e políticas, com olhar para a descentralização e o empoderamento dos usuários.
Se na versão 1.0 o sistema era basicamente unidirecional desfrutado pela Geração X, na versão posterior os dados são armazenados de forma mais central e compartilhados pela Geração Y. As Gerações Z e Alpha serão as grandes estrelas da versão 3.0. Se as evoluções anteriores parecem mais revoluções, não imagino destino diverso à Web 3.0.
Um mundo digital onde você possui seus dados digitais, ativos digitais e está em pleno controle. Romântico? Certamente. Utópico? Provável. Mas o que de fato será possível? Muitos entendem que há centralização de poder em sistemas descentralizados.
Este mês, o ex-CEO do Twitter Jack Dorsey insinuou que a Web 3.0 está sob o controle da indústria de venture capital, individualmente a empresa de Andreessen Horowitz, um dos pioneiros do Facebook e um entusiasta da Web3. Representantes da empresa visitaram Capitol Hill em novembro já para tentar influenciar a regulamentação em torno da Web3.
Segundo Dorsey, atual CEO da Block, “Você não é dono da Web3. Os VCs e seus LPs sim. Nunca escaparão de seus incentivos. É, em última instância, uma entidade centralizada com um rótulo diferente”, tweetou. Acabou sendo bloqueado no Twitter por Marc Andreessen, co-fundador de Andreessen Horowitz. Ou seja, muita discussão por vir.
O que estou propondo a mim mesmo é um aprofundamento naquilo que não apenas dinheiro e bens, sistemas, servidores, organizações seriam descentralizados, mas as tomadas de decisão, governanças e controles. Um mundo digital mais profundo em que estamos submersos e os impactos sociais e econômicos serão transformadores. Um novo jeito de consumir, produzir, compartilhar, ter e ser.
A única tendência que eu pretendo focar no novo ano é um universo em si: a sociedade descentralizada. Espero que acompanhem e gostem! Feliz 2022!