Categories: Noticias

NFT: como comprei um lote na Lua e direitos autorais de música

“Estou criando minha conta Twttr”. O primeiro tweet postado há exatos 15 anos por Jack Dorsey, fundador da plataforma, recebeu uma oferta de US$ 2,5 milhões de Sina Estavi, CEO da Oracle Bridge, em um leilão realizado pela Valuable by Cent, empresa especializada na venda de tweets.

Sim! É isso mesmo! Leilão de tweet. O modelo é conhecido de colecionadores – fãs milionários que arrematam guitarras usadas por Jimi Hendrix ou pedaços manuscritos originais de composições dos Beatles, mas este por ser um ativo digital, o comprador receberá sua publicação em formato de Non-funglible Token (NFT).

O token não fungível é um ativo de propriedade digital único e tem a sua autenticidade comprovada através de informações registradas na blockchain. São bens escassos e únicos.

Há cerca de três anos eu comprei um lote na Lua, meu primeiro token. A Cryptolands.io, projeto concebido pelo programador Henrique Mascarenhas, permite a compra de um lote no satélite natural. No início, era possível comprar uma cratera lunar por US$ 80 dólares, contudo hoje, o mesmo espaço pode chegar a mais de US$ 1000. A plataforma gameficada, que foi apresentada à Singularity University, conta com um lado social: parte de toda compra é revertida para projetos sociais escolhidos pelo cryptolander (pessoa dona do terreno extraterrestre). A TechTudo resumiu bem a proposta na matéria “Startup nacional vende terrenos na Lua para ajudar o planeta.”

Os primeiros colecionáveis virtuais vieram do CryptoKitties, que na prática é um jogo que permite aos participantes comprar, coletar, reproduzir e vender gatos ainda que não existam na realidade, ou, ainda do CryptoPunks, colecionáveis únicos nos quais os personagens – punks humanos – têm traços e características especiais.

Pode soar meio bizarro, mas essa iniciativa inspirou o movimento CryptoArt, com exposições no ZKM Center for Art and Media em Karlsruhe, na Alemanha. Já existe até o NFT Awards para reconhecer esses ativos.

O artista Matt Kane vendeu em setembro do ano passado uma CryptoArt por mais de US$ 100 mil dólares. A obra em si é uma imagem que retrata visualmente o sobe e desce da cotação do Bitcoin a cada 24 horas, atualizando assim sua expressão artística de forma dinâmica por mais de dez anos.

Ou seja, o que começou como uma brincadeira gameficada, passou ao mundo dos colecionadores, se transformou em arte e já movimenta milhões.

Recentemente, a The Art Newspaper publicou o artigo de opinião de Blake Gopnik, autor de obra literária sobre Andy Warhol, que destaca que a obsessão por autenticidade certificada está presente desde o momento em que os artistas começaram a assinar suas obras e a ensinar ao seu público o valor da “coisa real”.

A tokenização ganhou musculatura depois de 2017. É um processo que comporta a reprodução de dados e elementos reais por outros análogos no formato digital. Com o registro em uma blockchain o token tem uma segurança, rastreabilidade e confiabilidade maior com códigos de identificação exclusivos e metadados que os distinguem uns dos outros e não podem ser replicadas.

Com isso, são múltiplas as possibilidades. As NFTs podem ser usadas em itens do mundo real de obras de arte a bens imóveis. Os casos mais comuns hoje são: colecionáveis, gaming, artes, ativos virtuais, ativos reais e identificação como passaportes. A OpenLaw criou um sistema para comercializar bens imóveis usando o padrão de fichas ERC-721, e a Nike no ano passado também patenteou um sistema para tokenizar sapatos.

A tokenização desses bens tangíveis do mundo real permite que eles sejam comprados, vendidos e comercializados, de forma mais eficiente, ao mesmo tempo em que reduz a probabilidade de fraude. Como o dinheiro físico, as criptomoedas são fungíveis, ou seja, podem ser trocadas ou destrocadas, uma por outra. 1 BTC é sempre igual em valor a outro 1 BTC, assim como 1 Real equivale a outro Real.

Já as NFTs tornam cada ativo único, tornando impossível sua troca por outro. Contudo, podem ser negociados e transferidos de um proprietário para outro. A revolução está na conversão de um ativo físico em um digital, que agiliza processos e elimina intermediários. Em matéria de imóveis, a empresa RealT permite a compra no mercado imobiliário americano de bens, inclusive de forma fracionada.

Para a publicação de 13 de março da Decrypt, “Se houvesse um concurso para a sigla do ano, “NFT” seria o claro favorito para 2021.” Segundo o site “hoje a gama de NFTs à venda inclui praticamente tudo que pode ser capturado como um arquivo digital. A banda Kings of Leon, por exemplo, lançou as versões NFT de seu novo álbum. A liga NBA vendeu NFTs de jogadas do astro LeBron James.

A revista Forbes anunciou, em 4 de março último, que a empresa tech Square está comprando o Tidal, o serviço de streaming de música do rapper Jay-Z, valorizando-o em U$450 milhões de dólares. Para a Forbes o NFT está por trás desse movimento.

Os músicos são a bola da vez! Quase 50 milhões de dólares destes NFTs são negociados a cada semana, cerca de 180 milhões de dólares nos últimos dois meses. A estrela da música eletrônica 3LAU terminou um leilão de $11,7 milhões de NFT, a maior venda de tokens musicais até agora, em parceria com a Origin Protocol.

No Brasil, a BRODR, iniciativa pioneira pertencente à empresa nacional NFT Tecnologia, tokeniza ativos musicais e os coloca à venda gerando rentabilidade imediata aos investidores na medida em que a música toca nas plataformas de streaming como Spotify, Tidal, Deezer, Apple, Amazon e Youtube. Os royalties são repassados mensalmente aos investidores de acordo com seus tokens. A tecnologia da BRODR foi desenvolvida ao longo de 3 anos, está testada e operacional sendo concebida pelo criador da Cryptolands, Henrique Mascarenhas, o empreendedor serial Ricardo Capucio entre outros.

Eu comprei frações no site da BRODR do Catálogo Sunshine do DJ LOthief, que é destaque na cena eletrônica com a música Sunshine (Cat Dealers e Santti). No mês seguinte passei a receber frações dos royalties a uma taxa bem acima dos investimentos tradicionais, e também passei a ouvir mais o som do jovem DJ e produtor, a fim de contribuir na valorização dos meus ativos. A revista DJ MAG Brasil fez uma matéria sobre esse lançamento específico.

A Forbes, em outra publicação, falou do Hipgnosis Songs Fund que foi negociado publicamente. Seu CEO Mercuriadis gastou US$1,8 bilhões de fundos de investidores comprando os direitos de 60.000 músicas. Grandes instituições financeiras do mundo acompanham de perto esse segmento onde vale citar o relatório produzido recentemente pelo Banco Goldman Sachs, que aponta crescimento acentuado do setor nos próximos 10 anos:

Em artigo que fiz sobre transformação digital em 2018, “Adapte-se”, mencionei como a crise econômica de 2008 catapultou o Bitcoin como uma resposta e porta de saída do modelo centralizado. O Bitcoin não é a inovação pós-crise de 2008, mas o blockchain.

A megacrise atual provocada pela Pandemia, ao afastar o público dos eventos artísticos presenciais, próprios de ambientes de aglomeração fez crescer o consumo no digital, acelerou transformações e o NFT em 2021 vai se beneficiar disso. Mais uma vez, o blockchain é sustentáculo do modelo.

Sejam gatos coloridos colecionáveis digitais, sejam personagens punks, imóveis ou direitos autorais, a revolução é certa, e confirma que de fato a NFT é sim forte candidata a sigla para o ano de 2021. Os ativos cada vez mais digitais, criam novos mercados e promovem ganhos cada vez mais reais.

Marcelo Bechara

Recent Posts

A Internet Morta e a IA Viva

Pessoalmente, não sou adepto de teorias da conspiração, mas vou recorrer a uma específica de…

1 mês ago

Seu desejo é uma ordem

No belo filme AI – Inteligência Artificial de 2001, dirigido por Steven Spielberg e adaptado…

9 meses ago

A lei do atrito e a inconstitucionalidade do art. 19 do Marco Civil da Internet

Imagine um objeto em um cenário desprovido de atrito, onde desliza sobre uma superfície sem…

10 meses ago

Suprema Internet

Marcelo Bechara /Diretor de Relações Institucionais e Regulação do Grupo Globo Thaís Marçal / Especialista…

2 anos ago

SOCIEDADE DESCENTRALIZADA PARTE IV: TOKENIZAÇÃO DE TUDO

No começo do ano escrevi sobre a tendência que observaria ao longo de 2022, a…

2 anos ago

SOCIEDADE DESCENTRALIZADA PARTE III: Vida Gamificada

Meu primeiro videogame foi o Atari. Lembro do meu irmão e eu fascinados com aqueles…

2 anos ago